QUESTÃO
01
Considere estes argumentos:
1. Alguns franceses são canhotos.
Alguns canhotos gostam de vinho.
Logo alguns franceses gostam de vinho.
2. Todos os franceses são canhotos.
Todos os canhotos gostam de vinho.
Logo todos os franceses gostam de vinho.
A)
IDENTIFIQUE se cada um desses argumentos
é válido ou inválido:
Resposta:
Argumento 1: inválido
Argumento 2: válido
B) Com base na definição de argumento válido,
justifique suas respostas.
Resposta:
Argumento
1 - Este argumento é inválido porque infere uma
proposição particular de outras duas proposições
particulares. Além disso, entre a primeira proposição
e a segunda não há um termo que pudesse fazer a mediação
entre as premissas e a conclusão. Portanto, não necessariamente
"alguns franceses gostam de vinho", pois, alguns canhotos
que gostam de vinho podem não ser franceses.
Argumento
2 - Este argumento é válido, ele concluiu uma
proposição particular de uma proposição
geral. E há presente entre as duas premissas o termo que faz
a mediação entre as premissas que permite a inferência.
Re-ordenando o argumento, pode-se afirmar:
Todos
os canhotos gostam de vinho.
Todos os franceses são canhotos.
Logo todos os franceses gostam de vinho.
Termo médio: canhotos
Como o subconjunto "franceses" está contido no
conjunto "canhotos gostam de vinho", pode-se concluir
necessariamente que "franceses gostam de vinho" |
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QUESTÃO
02
Leia estes trechos:
Sócrates — É muito certo o que disseste, que o saber
não é mais que percepção, e nele convergem
tanto o que diz Homero, Heráclito e toda a sua espécie:
que tudo se move como fluxos, e, como diz o sapientíssimo Protágoras,
que o homem é a medida de todas as coisas, e ainda, como assim
afirma Teeteto, que a percepção se torna saber.
.......................................................................................................................
Sócrates — Sabes, Teodoro, o que me espanta no teu amigo
Protágoras?
Teodoro — O que é?
Sócrates — Por um lado, agrada-me o que disse, que aquilo
que parece a cada um, também é; mas admirei-me com o princípio
do argumento, pois não disse, no início de [sua obra]
A Verdade, que “o porco é a medida de todas as coisas”
ou “o babuíno” ou qualquer outro animal mais estranho,
de entre os que têm percepção, para que começasse
a falar-nos em grande estilo e com arrogância, demonstrando que
o admirávamos como a um deus pela sua sabedoria, enquanto ele
estava, quanto à inteligência, não melhor que um
girino, ou qualquer outro ser humano.
PLATÃO. Teeteto. Tradução de Adriana Manuela Nogueira
e Marcelo Boeri. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. p. 222-224.
Com base na leitura desses trechos e considerando outras informações
contidas nessa obra de Platão, REDIJA um texto,
explicando por que Sócrates recusa a identidade entre saber e
percepção.
Resposta:
Ao refutar a proposição
de Teeteto, "conhecer é perceber", Sócrates
utiliza-se de vários argumentos. Dois deles encontram-se nos
trechos supracitados, primeiro: se tudo muda conforme
disse Heráclito, o conhecimento não é possível,
pois, apenas se conhece aquilo que não muda; para afirmar isso,
Sócrates concorda com o argumento de Parmênides que diz
que o ser é e o não ser não é - o ser que
é é passível de conhecimento, e o ser que não
é, ou seja, aquele que sempre é um vir a ser, ou, aquele
que está em permanente fluxo, não é passível
de conhecimento, pois, ele não é idêntico a si mesmo
em nenhum momento.
Segundo argumento: se o homem é a medida de
todas as coisas como afirma Protágoras, o conhecimento não
é absoluto e sim relativo a cada homem que percebe, como os homens
percebem diferentemente uns dos outros, há vários conhecimentos
sobre alguma coisa. Portanto, não é possível conhecer
algo objetivamente e sim subjetivamente. Para Sócrates, portanto,
não se pode definir conhecimento como percepção,
tanto porque aquilo que é percebido muda, como as percepções
são diferentes.
QUESTÃO
03
Leia estes trechos:
TRECHO 1
Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de
homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios
deveres. Não há recompensa possível para quem a
tudo renuncia. Tal renúncia não se compadece com a natureza
do homem, e destituir-se voluntariamente de toda e qualquer liberdade
equivale a excluir a moralidade de suas ações. Enfim,
é uma inútil e contraditória convenção
a que, de um lado, estipula uma autoridade absoluta, e, de outro, uma
obediência sem limites. Não está claro que não
se tem compromisso algum com aqueles de quem se tem o direito de tudo
exigir? E essa condição única, sem equivalente,
sem compensação, não levará à nulidade
do ato? Pois que direito meu escravo terá contra mim, desde que
tudo que possui me pertence e desde que, sendo meu o seu direito, esse
direito meu contra mim mesmo passa a constituir uma palavra sem qualquer
sentido?
TRECHO 2
“Encontrar uma forma de associação que defenda e
proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força
comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo
a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes”.
Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social
oferece.
ROUSSEAU, J.-J. Do Contrato Social ou Princípios do Direito Político.
Livro primeiro. Tradução de
Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 27
e 32.
Nos trechos 1 e 2, acima transcritos, o autor refere-se, respectivamente,
à escravidão e ao estado civil.
Tomando como referência esses dois contextos destacados pelo autor,
REDIJA um texto, respondendo a esta questão:
Obedecer é renunciar à liberdade?
Resposta:
De acordo com Rousseau, o poder que o
senhor tem sobre o escravo se resume à força, e ela não
legitima a obediência. Em seu estado de natureza, o homem, para
defender sua liberdade, possui tão somente a sua própria
força, portanto, diante de alguém mais forte que o submete,
ele não tem outra escolha, a não ser obedecer. Deste modo,
o seu grau de liberdade é nulo. Com isso portanto, Rousseau,
argumentou contra aqueles que consideram que a força faz o direito.
Buscando uma forma de legitimar o direito e
o dever, Rousseau diz que se cada indivíduo aliena a si mesmo
e tudo o que tem a todos, cada um obedecerá a si mesmo, pois,
a alienação de tudo não foi feita a uma pessoa
ou a um grupo particular, mas sim a um corpo político que se
forma no ato da alienação por todas as vontades particulares
que neste mesmo ato torna-se a vontade geral. A partir de então,
está constituído o estado civil no qual cada homem torna-se
cidadão de direito e de dever. No estado civil portanto, o cidadão
espontaneamente obedece a lei ou as regras que ele mesmo, como cidadão
de direito, instituiu para si mesmo. Portanto, no estado de direito,
obedecer não é renunciar à liberdade. Inclusive,
neste estado, a liberdade de cada cidadão é garantida
e estendida pela vontade geral, pois a defesa de sua liberdade não
se restringe mais a sua própria força.
QUESTÃO 04
Leia este texto:
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PRECONCEITO
MUITO PRA FRENTE
Toda hora eu vejo, em jornais, revistas,
televisão, e na rua, pessoas cada vez mais “livres”
de preconceitos e... E no entanto todas estão convencidas
de que a Terra gira em torno do Sol. Por quê?
Pergunte a elas e elas responderão:
“Ué, Galileu provou isso há muito tempo”.
Mas provou pra quem? Pode ser que tenha provado pros cientistas.
O homem comum e mesmo nós, os pejorativamente chamados
intelectuais, aceitamos e pronto. Sem pensar. “Preconceituosamente.”
Como antes de Galileu aceitávamos que o Sol girava em torno
da Terra. Mas, entre Galileu – de cujas “provas nunca
tomamos conhecimento, muito menos sabemos dizer quais são
– e a realidade, que literalmente salta (gira) a nossos
olhos, temos que acreditar é em nossos olhos. Nossos olhos
vêem, com absoluta certeza, que o Sol nasce ali (a leste,
pra mim no Arpoador, no momento em que escrevo às 5h43
do dia) e morre do outro lado (a oeste, pra mim na Pedra da Gávea,
às 7h53 da noite), girando em torno de uma terra absolutamente
parada (terremotos à parte), sobre a qual caminhamos sem
sentir o menor movimento. De agora em diante, respondam com convicção:
o Sol gira em torno da Terra e não quero mais papo sobre
isso.
O Millôr provou. |
FERNANDES,
M. Millôr. Veja, São Paulo, n. 48, p.34, dez. 2007.
Com base na leitura desse texto e considerando outros conhecimentos
sobre o assunto, REDIJA um texto, argumentando a
favor de ou contra esta posição:
se todo o conhecimento deriva da observação, então,
é justificável acreditar que o Sol gira em torno da Terra.
Resposta:
Argumento
a favor: Se a verdade é uma crença justificada,
a proposição "o Sol gira em torno da Terra"
é uma verdade pois é uma crença justificada empiricamente.
A experiência sensível em relação ao Sol
deixa evidente o seu movimento relativo a quem o percebe visualmente.
Neste caso, o conhecimento é relativo e subjetivo, pois, depende
de quem o percebe. Além disso, é um conhecimento que parte
de uma observação particular para concluir uma proposição
geral, ele é portanto, um conhecimento indutivo. Esse conhecimento
de senso comum é necessário para lidarmos com o mundo
no dia-a-dia.
Argumento
contra: Se a verdade é uma crença justificada,
a proposição "o Sol gira em torno da Terra"
não é uma verdade pois é uma crença que
não pode ser justificada racionalmente. A partir do Renascimento,
Copérnico e posteriormente Tycho Brahe, Kepler e Galileu, contestaram
matematicamente o geocentrismo, e, a partir de modelos geométricos
tomados de Euclides, desenvolveram hipóteses sobre o movimento
da Terra em torno do Sol. Mais tarde com o avanço tecnológico,
as hipóteses tornaram-se teorias pela comprovação
observacional através de telescópios. O conhecimento obtido
racionalmente tem-se revelado mais útil e mais verdadeiro do
que o conhecimento obtido empiricamente, por isso, a frase supra-citada
não se sustenta.
QUESTÃO
05
Leia este trecho:
Eu quero dizer que o mal [...] não tem profundidade, e que por
esta mesma razão é tão terrivelmente difícil
pensarmos sobre ele [...] O mal é um fenômeno superficial
[...] Nós resistimos ao mal em não nos deixando ser levados
pela superfície das coisas, em parando e começando a pensar,
ou seja, em alcançando uma outra dimensão que não
o horizonte de cada dia. Em outras palavras, quanto mais superficial
alguém for, mais provável será que ele ceda ao
mal.
ARENDT, H. Carta a Grafton, apud ASSY, B. Eichmann, Banalidade do Mal
e Pensamento em Hannah
Arendt. in: Jardim, e.; Bignoto , N. (org.). Hannah Arendt, diálogos,
reflexões, memórias. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2001. p. 145.
A partir da leitura desse trecho, REDIJA um texto,
argumentando a favor de ou contra
esta
afirmativa:
Para se prevenir o mal, é preciso reflexão.
Resposta:
Argumento
a favor:
O mal é uma ação impulsiva própria de animais
irracionais que agem e reagem sem a mediação da inteligência.
O que torna o homem um ser humano é a sua capacidade de pensar
antes de agir, portanto, diante de uma situação adversa
é necessário refletir e, a partir desta reflexão,
agir ponderadamente calculando as consequências e medindo todos
os passos para não se correr o risco de cometer alguma maldade.
Como disse Eurípedes, "A razão pode lutar corpo a
corpo com os terrores, e derrubá-los."
Argumento
contra:
O mal não é uma intenção ou reflexão
racional, ele é uma ação efetiva que se dá
entre os homens no trato de suas relações. Contra ele,
é necessário agir com virtude moral praticando efetivamente
a justiça, tomando atitudes corajosas, decidindo com prudência
no sentido de restabelecer ou estabelecer uma ordem que permita a convivência
pacífica entre os homens. Todo avanço científico
e tecnológico, frutos do pensamento e da razão, já
se mostraram produtores de guerras e ferramentas destruidoras nas mãos
de interesses escusos. Por isso, pensar, refletir, contemplar boas idéias
não estirparão o mal. |