Este tema está dentro do tópico 'Filosofia
Moderna'. A principal característica deste período é
o poder da razão iluminar, produzir e arrancar da natureza tudo
que é benéfico aos homens. Portanto, o ser humano é
aquele que é capaz de pensar e criar o seu próprio mundo.
Além do mundo, o corpo humano é também dessacralizado,
justamente devido a separação radical promovida por Descartes
entre alma e corpo radicalizando o projeto renascentista.
"No Discurso do Método o dualismo cartesiano
se mostra plenamente constituído e, com ele, define-se a estrutura
fundamental da antropologia racionalista: de um lado o 'espírito'
cujo existir se manifesta na evidência do Cogito; de outro, o 'corpo'
obedecendo aos movimentos e às leis que impelem a máquina
do mundo. O 'ponto arquimediano' que permitirá mover o globus intellectualis
do século XVII para colocá-lo na órbita do racionalismo
cartesiano é, justamente, o Cogito: nele está implicada
uma nova relação do 'espírito' com o muno que define
uma nova concepção do homem. O mundo não é
mais a physis antiga dotada de um princípio imanente de moviemento
(arque kinêseôs, na definição de Aristóteles),
mas a grande máquina capaz de ser analisada pela razão e
por ela reproduzida na forma de um modelo matemático. Uma conseqüência
importante da antropologia racionalista é o progressivo
atenuar-se da distinção entre 'natural' e 'artificial' (entre
physis e a téchne) que era um dos fundamentos da visão aristotélica
do mundo. O corpo humano é integrado no conjunto dos artefatos
e das máquinas e só a presença do 'espírito',
manifestando-se sobretudo na linguagem, separa o homem (a alma) do 'animal-máquina'."
(Antropologia Filosófica I, Vaz, Henrique de Lima)
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