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Natureza, cultura e linguagem

      Quando falamos "árvore" já estamos descrevendo algo natural e também já estamos na cultura através da linguagem. Sentimos a sombra da árvore num dia de calor, mas não necessariamente deveríamos saber o que é árvore e nem precisamos nomear o que sentimos quando sentimos o frescor da sombra, simplesmente sentimos. Do mesmo modo que um bebê não sabe o que tem quando está com fome; ele simplesmente chora. Nesta situação, a mãe fica tateando e apalpando o bebê para identificar o que ele tem: o mais comum é fome, dor de barriga e dor de ouvido. A mãe não fica sossegada enquanto não descobrir, e ela pensa que descobriu no momento em que o bebê pára de chorar. Pensa ela que dar o leite, ou massagear a barriga funcionou, portanto o bebê tinha esta ou aquela dor. Ao final, ela dirá: "O bebê estava com dor de barriga". Vê-se que para estudar a natureza, a cultura e a linguagem não se pode perder de vista o entrelaçamento entre estes três conceitos, assim como também deve-se perceber a meta análise que é feita dos três em separados e dos três juntos.
      O poeta português, Fernando Pessoa, em seu poema como Alberto Caeiro sobre a natureza disse:

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol

E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos

De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa. Metafísica?

Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...

Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

Trecho do poema Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa (Alberto Caieiro)

      É próprio da Filosofia analisar, racionalizar, procurar entender, dar razões. E o que Fernando Pessoa fez foi mostrar que não se dá razão e nem se tenta entender a natureza. Para ele a natureza simplesmente é. E ela não vem com uma etiqueta de identidade e nem com manual de uso. Estranha o poeta que haja pessoas que tentam entender a natureza como se ela quisesse dizer algo. Simplesmente esbarramos nela desde o nascimento porque estamos nela incrustrados, a natureza é précondição de vida e de conhecimento.
      Os filmes Náufrago e Na natureza selvagem são histórias que fazem um paralelo entre natureza e cultura.
Náufrago: O protagonista, após um determinado período, vai adquirindo uma cor bronzeada devido ao intenso sol que ao mesmo tempo é um cor semelhante ao solo da ilha. Seu cabelo vai ficando atrapalhado e grande porque não existe pente e não há como cortá-lo. Estas transformações