Conhecimento
sensível e conhecimento inteligível |
Primariamente,
o conhecimento de um dado objeto ou fato é objetivo e impessoal.
Secundariamente, o conhecimento de um dado objeto por um sujeito cognoscente
é subjetivo e derivado.
O conhecimento objetivo é uma técnica
para a verificação de um objeto qualquer, ou a disponibilidade
ou posse de uma técnica semelhante. Uma técnica de verificação
é qualquer procedimento que possibilite a descrição,
o cálculo ou a previsão controlável de um objeto.
Objeto é qualquer entidade, fato, coisa, realidade ou propriedade.
Técnica, portanto, é o uso normal de um órgão
do sentido tanto quanto a operação com instrumentos complicados
de cálculo, estes procedimentos permitem verificações
controláveis. A controlabilidade dos procedimentos de
verificação, sejam eles grosseiros ou refinados, significa
a repetibilidade de suas aplicações, de modo que
um dado conhecimento permanece como tal só enquanto subsistir
a possibilidade da verificação. O conhecimento
de x significa um procedimento capaz de fornecer algumas informações
controláveis sobre x, isto é, que permita descrevê-lo,
calculá-lo ou prevê-lo em certos limites. Conhecer x
significa que sou capaz de pôr em prática procedimentos
que possibilitem a descrição, o cálculo ou a previsão
de x.
Conhecimento sensível
É o conhecimento obtido através dos
sentidos - visão, audição, olfato, tato e paladar.
Este conhecimento pode ocorrer numa experiência
(emperia = experiência) particular de um indivíduo com
um objeto, por exemplo, ao comer uma maçã um indivíduo
conhece a maçã. Através de seus sentidos ele pode
dizer: 'Esta maçã é doce.', 'Esta maçã
é macia.', etc.
Num diálogo entre dois indivíduos, pode
ocorrer o conhecimento entre ambos. Daí podem surgir proposições
do tipo: 'Fulano é uma pessoa educada.', 'Beltrano é muito
ansioso.', etc.
É importante observar que nos dois casos supracitados,
as proposições são fruto de experiências
subjetivas; por isso estas proposições são chamadas
de 'opiniões' (doxa)
Vários problemas existem em relação
a estas opiniões:
. Para qualquer indivíduo a maçã é doce
e macia?
. Para qualquer indivíduo Fulano é uma pessoa educada
e Beltrano é ansioso?
Conhecimento inteligível
É o conhecimento obtido através do intelecto
(pensamento, intuição intelectual).
Uma pessoa leiga (não cientista) sabe da existência
das células-tronco através de uma reportagem científica
mostrada numa revista ou pela TV, onde a comunidade científica
descreve as propriedades das células e os efeitos que elas causam
em um organismo. Mesmo sem ter visto uma célula-tronco e nem
o modo como ela funciona, damos crédito ao conhecimento a nós
passado pela comunidade científica.
Este tipo de conhecimento é objetivo (não
subjetivo), ele comum a qualquer pessoa. Os filósofos gregos
o denominaram de episteme (opinião verdadeira)
Os antigos consideravam o conhecimento como identificação,
ou seja, conhece-se um objeto porque há semelhança entre
os elementos do conhecimento e os elementos dos objetos.
1. Os pré-socráticos exprimiram-se com o
princípio de que 'o semelhante conhece o semelhante'.
Disse Empédocles: 'Conhecemos a terra com a terra, a água
com a água.'
Disse Heráclito: 'O que se move conhece o que se move.'
Para Heráclito a realidade era a harmonia dos contrários,
que não cessam de se transformar uns nos outros. Como então
percebemos as coisas como duráveis? Respondendo a esta pergunta,
Heráclito conclui que os sentidos nos mostram as coisas
enquanto duráveis, mas o nosso pensamento conhece como
as coisas são de fato, estão em mudança permanente.
Parmênides pensava o oposto de Heráclito, para ele
só é possível pensar o imutável, o idêntico.
Perguntava ele, como pensar aquilo que muda? Como pensar aquilo que
passa a ser o contrário do que era?
É importante observar que tanto para Heráclito quanto
para Parmênides perceber e pensar são coisas diferentes.
Para Heráclito os sentidos oferecem a imagem da estabilidade
e o pensamento alcança a verdade como mudança contínua.
Para Parmênides, percebemos mudanças impensáveis
e devemos pensar identidades imutáveis.
Para Demócrito, a realidade é constituída
por átomos (partículas indivisíveis) e somente
o pensamento pode conhecer os átomos, que são invisíveis
para nossa percepção sensorial. Ele dizia que podemos
conhecer pelos sentidos mas este conhecimento não é tão
profundo quanto o conhecimento pelo puro pensamento.
2. Sócrates e os sofistas:
Para os sofistas (Protágoras, Gorgias,
Hípias - sofistas mais destacados) não podemos conhecer
a realidade, só podemos ter opiniões subjetivas sobre
ela. Isto porque há pluralidade e antagonismos quanto a realidade.
Já que podemos só ter opiniões, a linguagem passa
a ser a melhor ferramenta para tratar da realidade e persuadir os outras
de suas próprias opiniões e idéias. Assim a verdade
é uma questão de opinião e de persuasão,
e a linguagem é mais importante do que a percepção
e o pensamento.
Para Sócrates a verdade pode ser conhecida afastando as
ilusões dos sentidos e as ilusões das palavras ou das
opiniões e alcançar a verdade apenas pelo pensamento.
Conhecer é passar da aparência à essência,
da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à
idéia universal.
3. Platão
Conhecer significa tornar o pensante semelhante ao
pensado. Deste modo ele estabelece uma correspondência entre ser
e ciência, que é o conhecimento verdadeiro. Conhecer é
estabelecer uma relação de identidade como o objeto em
cada caso, ou uma relação que se aproxime o máximo
possível da identidade. Platão distinguiu os seguintes
graus do conhecimento:
1º suposição ou conjectura, que tem por objeto
sombras e imagens das coisas sensíveis.
2º a opinião acreditada, mas não verificada,
que tem por objeto as coisas naturais, os seres vivos e o mundo sensível.
3º razão científica, que procede por via de
hipóteses e tem por objeto os entes matemáticos.
4º inteligência filosófica, que procede dialeticamente
e tem por objeto o mundo do ser.
Para Platão os dois primeiros modos devem ser
afastados da Filosofia pois são conhecimentos ilusórios,
aparentes. Os dois últimos são válidos para o conhecimento
verdadeiro. O conhecimento matemático é puramente intelectual
e não devem nada aos sentidos e não se reduzem a meras
opiniões subjetivas. O conhecimento matemático é
a preparação para a intuição intelectual
das idéias verdadeiras, que constitem a verdadeira realidade.
Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento
o conhecimento sensível (crença e opinião) e o
conhecimento intelectual (raciocínio e intuição),
somente o segundo alcança o Ser a verdade. o conhecimento sensível
alcança a mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual
alcança a essência das coisas, as idéias.
Na Alegoria da Caverna, Platão descreve
a educação do filósofo, que passa do conhecimento
sensível para o conhecimento inteligível. Ele procura
mostrar a superioridade do conhecimento inteligível em relação
ao sensível. O primeiro é o conhecimento daquilo que é
real e o segundo é o conhecimento das aparências.
4. Aristóteles
No conhecimento sensível, o conhecimento
em ato é idêntico ao objeto. No conhecimento inteligível,
o conhecimento é a forma inteligível do objeto. Por exemplo,
ouvir um som (sensação em ato) identifica-se com o próprio
som. Esta doutrina de Aristóteles irá dominar o curso
ulterior da filosofia grega. Aristóteles disse que há
seis formas de conhecimento: sensação, percepção,
imaginação, memória, raciocínio e intuição.
As cinco primeiras formas oferecem um conhecimento diferente da última,
a intuição intelectual, esta é a única que
possibilita o conhecimento do 'Ser enquanto Ser'.
Goethe em versos expressou o modo como os filósofos antigos concebiam
o conhecimento:
Se
os olhos não fossem solares
Jamais o Sol nós veríamos;
Se em nós não estivessem a própria força
divina,
Como o divino sentiríamos? |
De
acordo com estes versos, há algo por trás das coisas, há
um substrato, uma essência das coisas, e em nós que possibilita
o conhecimento das coisas que conhecemos.
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